quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ócio criativo

“Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre o seu amor e a sua religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo” (Domenico de Masi, O Ócio Criativo).

Uma das falas que mais ouvimos diariamente é "não tenho tempo". O dia da maioria das pessoas foi preenchido pelo trabalho, somos viciados em trabalho, falta tempo para poder trabalhar mais e ganhar mais. Quando sobra tempo estamos tão cansados que o nosso corpo nos pede não fazer nada.

Este fenômeno se faz evidente também na forma em que alguns pais organizam a rotina dos seus filhos. Futebol, karatê, natação, inglês, e a escola. Muitas vezes a própria criança pede isto para os pais, ele quer, porém, devemos refletir sobre o que é importante para eles nessa etapa dos processos formativos. Muitas vezes este fenômeno não é senão consequência do próprio estilo de vida dos pais. Manter os filhos ocupados é um tranquilizante para nossa consciência. 

A proposta de Domenico de Masi é uma volta ao agir dos antigos gregos em que o tempo do ócio era fundamental. Para os gregos não era um tempo de fazer nada; era um tempo necessário para poder refletir, criar, inovar, produzir conhecimento.

Para o sociólogo e cientista italiano, o ócio não é um tempo de não fazer nada, pelo contrario, é um momento de criatividade, de produção de conceitos, de ideias. é um momento vital e necessário.

Quando preenchemos todos os espaços do nosso dia com atividades diversas, muitas vezes corremos o risco de perder a possibilidade de ter momentos de contato com nós mesmos e dia após dia nos tornamos mais desconhecidos do nosso próprio ser, das nossas necessidades, sensações, desejos, angustias.

No trecho do livro de Domenico de Masi, observamos a necessidade do entendimento dialético das coisas, da tensão constante entre os contraditórios. Fernando Anitelli, poeta e músico brasileiro define isto numa das suas músicas de forma genial " tem horas que a gente se pergunta Por que é que não se junta tudo numa coisa só?". Melhor que este verso da música é só o seu título: O tudo é uma coisa só.

Vale a pena refletir um pouco


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